Abrir as portas «para fora»
Deliciei-me com a leitura do livro Dizer sim à vida apesar de tudo, da autoria de Viktor E. Frankl, psicoterapeuta, fundador da logoterapia, nascido em 1905, de origem judaica, residente em Viena, falecido a finais do séc. XX.
Foi inquilino de quatro campos de concentração nazis; sobreviveu ao tifo, à fome, ao frio; o nazismo pô-lo viúvo; a mãe morreu numa câmara de gás, em Aushwitz, no ano de 1944; o irmão faleceu numa mina, rendido a trabalhos forçados; perdeu amigos e familiares; quando foi restituído à liberdade, deu conta que estava, literalmente… só!
Mas nunca desistiu da vida, nunca colocou a hipótese do suicídio, acreditou sempre, remou contra a corrente e exortou toda a gente a dar sentido à vida (é, aliás, autor de um bestseller intitulado O homem em busca de um sentido).
Um dia escreveu: “Se não tivesse esta filosofia de vida positiva firme como uma rocha – em que é que me teria tornado nestas semanas ou já naqueles meses que passei no campo de concentração? Mas eu vejo as coisas numa dimensão mais vasta. Eu reconheço cada vez mais que a vida tem um sentido de forma tão infinita, ao ponto de crer que tem de haver um sentido também no sofrimento e até no fracasso”.
O livro que aqui nos ocupa conta com uma introdução de D. Nuno Almeida, que não é uma mera referência à obra, antes uma síntese perfeita do pensamento global de Víktor Frankl, que assim se pode iterar:
– “o ser humano sem um significado na vida desespera e degrada-se, pode adoecer e por vezes escolher a morte”;
– “quando tem um «para quê», a pessoa humana pode suportar qualquer género de condições, mesmo as mais desumanizantes, sem perder a dignidade, a vontade de lutar, a capacidade de amar e a própria fidelidade à vida: «apesar de tudo»”;
– Em qualquer situação existencial pode buscar-se um significado; também as condições mais hostis podem transformar-se numa vivência digna do espírito humano, numa ocasião de crescimento pessoal e maturação interior;
– Transcender-se significa – palavras de Frankl, “estar sempre voltado para algo, para alguém, oferecer-se e dedicar-se plenamente a um trabalho, a uma pessoa amada, a um amigo, ou a Deus que se quer amar e servir”;
– “No fundo [voltamos à lanterna de D. Nuno], cada um tem de perguntar: o que é que a vida quer de mim? Em última instância, viver significa assumir a responsabilidade de encontrar a resposta correta para os problemas que a vida coloca e cumprir as tarefas que ela continuamente aponta a cada pessoa”.
Merecem ainda referência e meditação, por entre as páginas do livro, alguns pensamentos que Frankl, psiquiatra de renome mundial, colhe de outros autores. Ora registemos:
– “Não percas a coragem, camarada, aguenta, // nós trazemos no sangue o apego à vida // e no fundo da alma a nossa crença” (Fritz Löhner-Beda / Hermann Leopoldi, n’A canção de Buchnwald);
– A porta para a felicidade abre «para fora»; fecha-se justamente para aquele que a tenta forçar para dentro (cfr Kierkegaard);
– “Se eu piso a minha infelicidade [em vez de me deixar abater por ela], fico mais alto” (Hölderlin, poeta);
– “A vida não é alguma coisa – ela é uma oportunidade para alguma coisa!” (Friedrich Hebbel, poeta e dramaturgo).
Resumindo: animemo-nos. Toca a procurar sentido para a vida. Há que abrir a porta «para fora». Calquemos as contrariedades – ficaremos mais altos. Que os martírios nos ajudem a maturar. Cultivemos a vertente espiritual. Não percamos a coragem. Cantemos também nós: “trazemos no sangue o apego à vida e no fundo da alma a nossa crença”!
Cón. José Paulo Leite de Abreu
Presidente da Confraria de Nossa Senhora do Sameiro
Abrir as portas «para fora»
Deliciei-me com a leitura do livro Dizer sim à vida apesar de tudo, da autoria de Viktor E. Frankl, psicoterapeuta, fundador da logoterapia, nascido em 1905, de origem judaica, residente em Viena, falecido a finais do séc. XX.
Foi inquilino de quatro campos de concentração nazis; sobreviveu ao tifo, à fome, ao frio; o nazismo pô-lo viúvo; a mãe morreu numa câmara de gás, em Aushwitz, no ano de 1944; o irmão faleceu numa mina, rendido a trabalhos forçados; perdeu amigos e familiares; quando foi restituído à liberdade, deu conta que estava, literalmente… só!
Mas nunca desistiu da vida, nunca colocou a hipótese do suicídio, acreditou sempre, remou contra a corrente e exortou toda a gente a dar sentido à vida (é, aliás, autor de um bestseller intitulado O homem em busca de um sentido).
Um dia escreveu: “Se não tivesse esta filosofia de vida positiva firme como uma rocha – em que é que me teria tornado nestas semanas ou já naqueles meses que passei no campo de concentração? Mas eu vejo as coisas numa dimensão mais vasta. Eu reconheço cada vez mais que a vida tem um sentido de forma tão infinita, ao ponto de crer que tem de haver um sentido também no sofrimento e até no fracasso”.
O livro que aqui nos ocupa conta com uma introdução de D. Nuno Almeida, que não é uma mera referência à obra, antes uma síntese perfeita do pensamento global de Víktor Frankl, que assim se pode iterar:
– “o ser humano sem um significado na vida desespera e degrada-se, pode adoecer e por vezes escolher a morte”;
– “quando tem um «para quê», a pessoa humana pode suportar qualquer género de condições, mesmo as mais desumanizantes, sem perder a dignidade, a vontade de lutar, a capacidade de amar e a própria fidelidade à vida: «apesar de tudo»”;
– Em qualquer situação existencial pode buscar-se um significado; também as condições mais hostis podem transformar-se numa vivência digna do espírito humano, numa ocasião de crescimento pessoal e maturação interior;
– Transcender-se significa – palavras de Frankl, “estar sempre voltado para algo, para alguém, oferecer-se e dedicar-se plenamente a um trabalho, a uma pessoa amada, a um amigo, ou a Deus que se quer amar e servir”;
– “No fundo [voltamos à lanterna de D. Nuno], cada um tem de perguntar: o que é que a vida quer de mim? Em última instância, viver significa assumir a responsabilidade de encontrar a resposta correta para os problemas que a vida coloca e cumprir as tarefas que ela continuamente aponta a cada pessoa”.
Merecem ainda referência e meditação, por entre as páginas do livro, alguns pensamentos que Frankl, psiquiatra de renome mundial, colhe de outros autores. Ora registemos:
– “Não percas a coragem, camarada, aguenta, // nós trazemos no sangue o apego à vida // e no fundo da alma a nossa crença” (Fritz Löhner-Beda / Hermann Leopoldi, n’A canção de Buchnwald);
– A porta para a felicidade abre «para fora»; fecha-se justamente para aquele que a tenta forçar para dentro (cfr Kierkegaard);
– “Se eu piso a minha infelicidade [em vez de me deixar abater por ela], fico mais alto” (Hölderlin, poeta);
– “A vida não é alguma coisa – ela é uma oportunidade para alguma coisa!” (Friedrich Hebbel, poeta e dramaturgo).
Resumindo: animemo-nos. Toca a procurar sentido para a vida. Há que abrir a porta «para fora». Calquemos as contrariedades – ficaremos mais altos. Que os martírios nos ajudem a maturar. Cultivemos a vertente espiritual. Não percamos a coragem. Cantemos também nós: “trazemos no sangue o apego à vida e no fundo da alma a nossa crença”!
Cón. José Paulo Leite de Abreu
Presidente da Confraria de Nossa Senhora do Sameiro