Gratidão aos “menos”
Colocou-lhes feno nos pratos. Os filhos e o marido “saltaram paredes”. Mas que vem a ser isto?! Feno?!
Serena, a mãe e esposa respondeu: há mais de vinte anos que cozinho para vós e ninguém me diz: a comida está boa; obrigado pelo teu trabalho, pela solicitude contínua e amorosa com que nos cobres.
Recupero esta história para enaltecer quantos, tantas vezes no escondimento, no silêncio, sem holofotes, sem nome de rua nem foto em jornal ou noticiário, cuidam dos outros.
A começar nas donas de casa, nas empregadas domésticas, nos que trabalham em limpezas, nos que preparam alimentos ou servem à mesa…
Quem cozinha todos os dias sabe o que isso custa; quem passa a vida a lavar a loiça, sabe o quanto isso “dói”; quem “enverniza” a cozinha a esfregona, sabe quanto isso empenha e demora…
E esses trabalhos não são valorizados.
Juntando a isso o cuidar das roupas, limpar o pó e aspirar, assear a casa, “fazer” as camas…
Obrigado a quem tantas vezes é andaime e, na inauguração da obra, não é aplaudido.
Li outro dia, com espanto, uma frase, o filho a dizer ao pai: “olha, pai, vão ali os homens do lixo”. Ao que o pai retorquiu: “não, filho, os homens do lixo somos nós; aqueles são os que o recolhem”.
Quanta gente não é valorizada no seu modesto e escondido trabalho, a garantir o bem-estar de todos.
Como alguém referia (na altura, em palavras a interpretar literalmente), a “escravatura” de alguns é condição do esplendor da cidade.
Ainda trago na memória o conto do marido que entra em casa, vê a sala em rebuliço, os quartos por arrumar, a cozinha num caos, a canalhada toda sabuja e, mal-humorado, questiona a mulher: então, o que é isto? Que fizeste hoje?! – Ao que a esposa respondeu: o problema é esse – é que hoje, não fiz!
Não quero aqui inaugurar a autoestrada do machismo, ou do feminismo. Felizmente temos, nos dias que correm, a noção de que o “fazer” é para todos.
Também não quero esquecer os profissionais da saúde, os bombeiros, os juristas, os economistas, os gestores, os industriais, os professores, os jornalistas, os sacerdotes, os engenheiros, os arquitetos, os governantes, os diretores e presidentes de…
Mas hoje, simplesmente, a minha festa e gratidão vai para os “menos”, para quem realiza os trabalhos mais simples e humildes, para quem lava, limpa, cuida, repara, constrói, cultiva, pesca, para quem labora na modéstia e silêncio, para quem luta “escondido”, para quem nunca é reconhecido… mas faz cómoda, possível e tranquila a vida dos outros.
Para esses (essas), um enorme abraço agradecido, penhor das maiores bênçãos do céu e da recompensa de Maria, a serva do Senhor!
Cón. José Paulo Leite de Abreu
Presidente da Confraria de Nossa Senhora do Sameiro
Gratidão aos “menos”
Colocou-lhes feno nos pratos. Os filhos e o marido “saltaram paredes”. Mas que vem a ser isto?! Feno?!
Serena, a mãe e esposa respondeu: há mais de vinte anos que cozinho para vós e ninguém me diz: a comida está boa; obrigado pelo teu trabalho, pela solicitude contínua e amorosa com que nos cobres.
Recupero esta história para enaltecer quantos, tantas vezes no escondimento, no silêncio, sem holofotes, sem nome de rua nem foto em jornal ou noticiário, cuidam dos outros.
A começar nas donas de casa, nas empregadas domésticas, nos que trabalham em limpezas, nos que preparam alimentos ou servem à mesa…
Quem cozinha todos os dias sabe o que isso custa; quem passa a vida a lavar a loiça, sabe o quanto isso “dói”; quem “enverniza” a cozinha a esfregona, sabe quanto isso empenha e demora…
E esses trabalhos não são valorizados.
Juntando a isso o cuidar das roupas, limpar o pó e aspirar, assear a casa, “fazer” as camas…
Obrigado a quem tantas vezes é andaime e, na inauguração da obra, não é aplaudido.
Li outro dia, com espanto, uma frase, o filho a dizer ao pai: “olha, pai, vão ali os homens do lixo”. Ao que o pai retorquiu: “não, filho, os homens do lixo somos nós; aqueles são os que o recolhem”.
Quanta gente não é valorizada no seu modesto e escondido trabalho, a garantir o bem-estar de todos.
Como alguém referia (na altura, em palavras a interpretar literalmente), a “escravatura” de alguns é condição do esplendor da cidade.
Ainda trago na memória o conto do marido que entra em casa, vê a sala em rebuliço, os quartos por arrumar, a cozinha num caos, a canalhada toda sabuja e, mal-humorado, questiona a mulher: então, o que é isto? Que fizeste hoje?! – Ao que a esposa respondeu: o problema é esse – é que hoje, não fiz!
Não quero aqui inaugurar a autoestrada do machismo, ou do feminismo. Felizmente temos, nos dias que correm, a noção de que o “fazer” é para todos.
Também não quero esquecer os profissionais da saúde, os bombeiros, os juristas, os economistas, os gestores, os industriais, os professores, os jornalistas, os sacerdotes, os engenheiros, os arquitetos, os governantes, os diretores e presidentes de…
Mas hoje, simplesmente, a minha festa e gratidão vai para os “menos”, para quem realiza os trabalhos mais simples e humildes, para quem lava, limpa, cuida, repara, constrói, cultiva, pesca, para quem labora na modéstia e silêncio, para quem luta “escondido”, para quem nunca é reconhecido… mas faz cómoda, possível e tranquila a vida dos outros.
Para esses (essas), um enorme abraço agradecido, penhor das maiores bênçãos do céu e da recompensa de Maria, a serva do Senhor!
Cón. José Paulo Leite de Abreu
Presidente da Confraria de Nossa Senhora do Sameiro