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Rainha da paz, rogai por nós!
Ficam-nos na retina as imagens dos carrinhos de bebé no meio da praça, vazios. A bárbara guerra fez indevida ceifa. Atravessou que nem seta afiada o coração das mães. Cerceou carinhos, desvelos, ternura, abraços, sonhos. Tudo está aí, votado ao vento, aberto à intempérie. As plantas tenras de um jardim sonhado bonito ficaram na cave do hospital, com um letreiro por cima, contra a parede, sem pretendentes; ou caíram em valas, terra sobre anonimato, futuro desfeito por um presente hediondo.
Lembramos o miúdo a bater ao pai, quase a arrancar-lhe o capacete, em gesto de desespero, pressentindo ausências dolorosas, percebendo a separação iminente. Que a guerra tem provocado isso: pais para um lado, para combater; mulher e filhos para outro, para não morrer. Quantas famílias destroçadas. Quanta dor na despedida. Quanta incerteza relativamente a reencontros futuros. Quantos exilados, aos milhões, à procura de um pouco de paz, ou só de não morrer, ou do silêncio que as sirenes espantam.
Não esqueço as mãos que limpam janelas nos comboios, dizendo adeus a quem fica no cais. Quem pode ficar insensível?! – Só mesmo quem olha a realidade de muito longe, da outra ponta de uma mesa muito comprida, que põe a humanidade a muitos quilómetros de distância.
Corpos pelo chão. Sangue por todo o lado. Sacos de plástico a embrulhar quem já rumou para a casa do Pai. Putrefação. Vidas destruídas, algumas na flor da idade. Por nenhuma razão legítima, antes por prepotência, ditadura, violência gratuita, ferocidade de alma, cinismo, arrogância, jactância, brutalidade, frieza, mente perversa.
Quanto tempo demora a construir um prédio, um bairro, uma cidade? Quantos investimentos humanos e materiais? Quantos impostos de todos? Quanto cálculo e carrego? – E um míssil basta para tudo transformar em escombro. Cidades desfeitas. Prédios arruinados. Paredes furadas. Vidros partidos. Pedaços de tijolo por todo o lado… Que brutalidade! Que horror! A quão baixo consegue chegar o género humano, quando os caminhos escolhidos não são os de Deus, os do bem, os da fraternidade, os da bondade, os do respeito pelos outros e suas legítimas escolhas e autonomia.
Tanta luta por uma casita, por uma vida certinha, pelo sustento de cada dia, uma vida inteira a lutar por isso… e agora, num ai, tudo cabe numa pequena mala, ou até numa saca plástica, num nada, porque em nada se tornou tudo, porque a nada a vida se reduziu.
Chega, Putin. Basta de tirania. Basta de prepotência. Basta de horrível e inqualificável violência. Basta de desumanidade. Basta de pânico e de horror. Emenda caminho. Ninguém te escolheu para dono do mundo. Converte-te, tu e os teus colaboradores diretos, escritores contigo desta página muito negra da história.
Felizmente há um outro lado. Há sempre um outro lado.
Um primeiro sublinhado para Zelensky, que preferiu ficar com o povo, a descansar em paraísos dourados.
Uma outra palavra de imenso apreço e admiração pelo povo ucraniano. Tenta conter-se nas palavras, mesmo quando não consegue segurar as lágrimas. A sofrer horrivelmente, mas resiliente. Resiste como pode. Solidários uns com os outros. Amam o seu país, que desejam livre e autónomo, construído por eles e próspero para todos.
Outra palavra muito sentida e grata para a solidariedade efetiva e afetiva de tanta e tanta gente. Heróis de carne e osso têm dado tudo, tempo, bens, esforços, cansaços e canseiras para minimizar a terrível dor e prestar socorro aos ucranianos perseguidos, exilados, errantes à procura de teto, alimento, braços amigos e futuro risonho.
Também de diplomacia, de orações, de palavras de incentivo, de medidas dissuasoras à guerra se tem tecido a teia da almejada paz. A todos os que para a diminuição do pesadelo têm contribuído, de Deus surja a merecida recompensa.
O Papa Francisco acaba de consagrar a Rússia e a Ucrânia a Nossa Senhora. Resulte daí um tempo novo, de concórdia e serenidade.
Quero concluir com um forte apelo. Em Fátima, Nossa Senhora pediu a reza do terço, para obtenção da paz. E falou concretamente da Rússia. Vamos a isso, vamos rezar o terço a pedir a paz?!
Que a Mãe no-la conceda. Quanto antes. A bem de todos os envolvidos na guerra. A bem do mundo.
Rainha da paz, rogai por todos. Rainha da paz, rogai por nós!
Cónego José Paulo Leite de Abreu, Presidente da Confraria de Nossa Senhora do Sameiro
Rainha da paz, rogai por nós!
Ficam-nos na retina as imagens dos carrinhos de bebé no meio da praça, vazios. A bárbara guerra fez indevida ceifa. Atravessou que nem seta afiada o coração das mães. Cerceou carinhos, desvelos, ternura, abraços, sonhos. Tudo está aí, votado ao vento, aberto à intempérie. As plantas tenras de um jardim sonhado bonito ficaram na cave do hospital, com um letreiro por cima, contra a parede, sem pretendentes; ou caíram em valas, terra sobre anonimato, futuro desfeito por um presente hediondo.
Lembramos o miúdo a bater ao pai, quase a arrancar-lhe o capacete, em gesto de desespero, pressentindo ausências dolorosas, percebendo a separação iminente. Que a guerra tem provocado isso: pais para um lado, para combater; mulher e filhos para outro, para não morrer. Quantas famílias destroçadas. Quanta dor na despedida. Quanta incerteza relativamente a reencontros futuros. Quantos exilados, aos milhões, à procura de um pouco de paz, ou só de não morrer, ou do silêncio que as sirenes espantam.
Não esqueço as mãos que limpam janelas nos comboios, dizendo adeus a quem fica no cais. Quem pode ficar insensível?! – Só mesmo quem olha a realidade de muito longe, da outra ponta de uma mesa muito comprida, que põe a humanidade a muitos quilómetros de distância.
Corpos pelo chão. Sangue por todo o lado. Sacos de plástico a embrulhar quem já rumou para a casa do Pai. Putrefação. Vidas destruídas, algumas na flor da idade. Por nenhuma razão legítima, antes por prepotência, ditadura, violência gratuita, ferocidade de alma, cinismo, arrogância, jactância, brutalidade, frieza, mente perversa.
Quanto tempo demora a construir um prédio, um bairro, uma cidade? Quantos investimentos humanos e materiais? Quantos impostos de todos? Quanto cálculo e carrego? – E um míssil basta para tudo transformar em escombro. Cidades desfeitas. Prédios arruinados. Paredes furadas. Vidros partidos. Pedaços de tijolo por todo o lado… Que brutalidade! Que horror! A quão baixo consegue chegar o género humano, quando os caminhos escolhidos não são os de Deus, os do bem, os da fraternidade, os da bondade, os do respeito pelos outros e suas legítimas escolhas e autonomia.
Tanta luta por uma casita, por uma vida certinha, pelo sustento de cada dia, uma vida inteira a lutar por isso… e agora, num ai, tudo cabe numa pequena mala, ou até numa saca plástica, num nada, porque em nada se tornou tudo, porque a nada a vida se reduziu.
Chega, Putin. Basta de tirania. Basta de prepotência. Basta de horrível e inqualificável violência. Basta de desumanidade. Basta de pânico e de horror. Emenda caminho. Ninguém te escolheu para dono do mundo. Converte-te, tu e os teus colaboradores diretos, escritores contigo desta página muito negra da história.
Felizmente há um outro lado. Há sempre um outro lado.
Um primeiro sublinhado para Zelensky, que preferiu ficar com o povo, a descansar em paraísos dourados.
Uma outra palavra de imenso apreço e admiração pelo povo ucraniano. Tenta conter-se nas palavras, mesmo quando não consegue segurar as lágrimas. A sofrer horrivelmente, mas resiliente. Resiste como pode. Solidários uns com os outros. Amam o seu país, que desejam livre e autónomo, construído por eles e próspero para todos.
Outra palavra muito sentida e grata para a solidariedade efetiva e afetiva de tanta e tanta gente. Heróis de carne e osso têm dado tudo, tempo, bens, esforços, cansaços e canseiras para minimizar a terrível dor e prestar socorro aos ucranianos perseguidos, exilados, errantes à procura de teto, alimento, braços amigos e futuro risonho.
Também de diplomacia, de orações, de palavras de incentivo, de medidas dissuasoras à guerra se tem tecido a teia da almejada paz. A todos os que para a diminuição do pesadelo têm contribuído, de Deus surja a merecida recompensa.
O Papa Francisco acaba de consagrar a Rússia e a Ucrânia a Nossa Senhora. Resulte daí um tempo novo, de concórdia e serenidade.
Quero concluir com um forte apelo. Em Fátima, Nossa Senhora pediu a reza do terço, para obtenção da paz. E falou concretamente da Rússia. Vamos a isso, vamos rezar o terço a pedir a paz?!
Que a Mãe no-la conceda. Quanto antes. A bem de todos os envolvidos na guerra. A bem do mundo.
Rainha da paz, rogai por todos. Rainha da paz, rogai por nós!
Cónego José Paulo Leite de Abreu, Presidente da Confraria de Nossa Senhora do Sameiro