Peregrinações

No primeiro domingo do mês de junho, a cidade de Braga acorda cedo.

Às 7h da manhã, em ponto, o andor de Nossa senhora do Sameiro sai da catedral, para rumar, ao ombro de homens fortes, para o Sameiro. São quilómetros de gente, uma romaria imensa, uma fé incrível, uma piedade a toda a prova, uma devoção indescritível. As paróquias ostentam os seus andores, o povo caminha com a sua devoção, os cânticos ressoam pelos ares, as varandas lançam flores, os jovens caminham a bom ritmo, os mais velhinhos esquecem o cansaço e as doenças.

Os seminaristas, por detrás do andor, preenchem cada metro com o terço, com música, com reflexões.

Em Tenões – pequena paragem – os Bombeiros disparam as sirenes, assim como emoção e lágrimas em muitos olhos.

À chegada, uma Eucaristia, presidida pelo Prelado da Arquidiocese, faz o apanhado das preces e louvores, alimenta o povo, dá alento para a caminhada da vida, reiniciada, a partir daí, com novo vigor e esperança.

É uma peregrinação arquidiocesana. Muito participada. Comovida e comovente. Sinal de união, de toda a Arquidiocese, da Arquidiocese com Nossa Senhora, da Mãe com todos os seus filhos.

A Festa litúrgica de Nossa Senhora do Sameiro ocorre, cada ano, no dia 12 de junho. Relembra a importância do Sameiro, melhor, de Nossa Senhora, a Imaculada Conceição, na vida de todos os crentes.

Antes ainda do Santuário de Fátima se ter imposto ao mundo inteiro, o Santuário de Nossa Senhora do Sameiro tornara-se a grande referencia mariológica e devocional de todo o país. E a liturgia – espelho fiel do sentir devoto – escolheu esse dia para venerar, honrar, tributar louvores e endereçar preces à Senhora, no alto do monte de Espinho, sobranceiro a Braga.

Tudo ajuda à comemoração: a música, a Eucaristia celebrada com brilho, o Terço e, sobretudo, a presença orante de quantos gostam de Nossa Senhora, invocada no Sameiro como Imaculada Conceição.

Entre os meses de maio e outubro, cada mês, sempre no dia 12, sempre a partir das 21:30h, realiza-se uma Procissão de Velas, com saída junto à Estátua de S. João Paulo II, na Praceta que ostenta o mesmo nome, e chegada à Cripta de Nossa Senhora do Sameiro.

Os devotos de tudo se encarregam: de levar o andor, as lanternas, a cruz…

O terço é cantado. Alguns cânticos, por entre os mistérios, animam ainda mais o cortejo. As velas acesas iluminam o caminho. As preces fazem-se ouvir, também as ações de graças. O povo acorre, em massa, rasgando a noite com a luz da cera e da fé e olhando a cidade iluminada, lá ao fundo, formulando preces por todos quantos a habitam. São lembradas as crianças, todos os estudantes, as famílias, quantos trabalham, os doentes, os solitários, os idosos…

E todos se sentem bem, rezando por cada um e pelos seus, rezando por todos.

Tradicionalmente fixada no penúltimo domingo de agosto, desde 2022 colocada no dia 15 de agosto, a peregrinação do emigrante pretende congregar os portugueses espalhados pelo mundo, unidos, porém, pelo sentimento de amor filial a Nossa Senhora do Sameiro. Vindos a Portugal para as férias, são nesse dia convocados para a Peregrinação, com saída do Bom Jesus pelas 9:30h, chegada prevista ao Sameiro pelas 11h, seguindo-se a celebração da Eucaristia pelas intenções de todos eles.

À chegada ao Sameiro, nos últimos anos, têm sido acolhidos por ranchos folclóricos, que “bailam” à Senhora. Da parte da tarde, os mesmos ranchos, de Braga e arredores, também provindos de outros países (Luxemburgo, França…), interpretam o espetáculo “Vamos bailar à Senhora”, onde se misturam danças, música, alegria, festa e muita devoção.

Tudo num são convívio. Fazendo perceber a todos que o longe se faz perto, quando a Mãe liga os fios do coração e Deus nos recorda que somos todos filhos e irmãos.

No domingo sucessivo ao dia 1 de novembro, os Irmãos de Nossa Senhora do Sameiro são chamados a reconhecerem-se como tal. Primeiro, rezando por quantos já partiram. Por eles se cantam as Vésperas e se celebra a Eucaristia, para que Deus os admita junto de si e de Sua Mãe. Os defuntos colhem assim a solidariedade dos peregrinos ainda nesta terra, orações e sacrifícios oferecidos para que se apresse o encontro definitivo e festivo com a corte celeste.

Segue-se o encontro dos irmãos que por cá peregrinam, com um convívio após a Eucaristia, os frutos da época – castanhas e vinho – a emprestar calor ao Verão de S. Marinho e a reforçar os laços de pertença e comunhão entre todos os irmãos da Confraria de Nossa Senhora do Sameiro. A música popular costuma aparecer para ajudar à festa.

Tudo em espírito de comunhão: da Igreja peregrina com a Igreja em trânsito para o Pai, destas com a Igreja celeste, onde para todos se pede morada permanente.

O Sameiro nasceu para lembrar ao mundo inteiro que a Mãe de Jesus é imaculada desde a sua conceição. Foi preservada de toda a mancha, para ser a digna morada do Salvador do mundo.

Quando esse dogma foi proclamado pelo Papa Pio IX, o P. Martinho Pereira da Silva quis mostrar o regozijo bracarense por tal pronúncia – correspondente, aliás, ao sentir da cristandade inteira, dos portugueses, dos bracarenses.

Daí a primeira escultura levantada no alto do Monte do Sameiro e as construções subsequentes: Basílica, Cripta, esculturas, edificações várias.

Então o dia 8 de dezembro é um dia de festa, por excelência, para o Sameiro. Com uma Eucaristia solene às 11:h, presidida pelo Arcebispo de Braga. Com muita música e fé. Com imensos peregrinos a subirem a montanha para honrarem a Imaculada, a Mãe puríssima, a Virgem Maria, a nova Eva, a portadora do Redentor para o mundo.

Da parte da tarde, canta-se o hino “Akathistos” (literalmente, “cantado de pé”), a mais bela composição mariana do rito bizantino.

Com chuva, com vento, com nevoeiro, com frio, ou com o tempo que Deus der, o Sameiro, em cada 8 de dezembro, é um “formigueiro” de gente… E a Mãe, certamente, sorri!