Tua mãe e eu vamos divorciar-nos

Tua mãe e eu vamos divorciar-nos

Como é difícil a vida para tanta gente. Tanto corrupio, tanta azáfama, agora para chegar a tempo ao trabalho, depois por compras que há para fazer; e há que ir buscar os filhos, que os pôr no inglês, nas explicações…

A casa nunca está arrumada por completo, o jantar alguém tem de o fazer, urge o banho da pequenada, o dia faz-se longo e cansativo, até para o casal resta pouco tempo e, desse, muito já sem leveza, sem sorriso espontâneo, sem disponibilidade para o diálogo, para o encontro…

As contas não param de chegar, da luz, do gás, da internet… O carro fica por um balúrdio. Os impostos são castigadores. Claro que o calçado vai-se gastando, bem com as roupitas. Os mais pequenos teimam em crescer, impondo sistemáticos investimentos… Ah, e depois temos as despesas de condomínio, da farmácia, nalguns casos das propinas, do quarto, das deslocações…

Os fins de semana trazem futebol. O sábado é dia que se ajeita para as compras e para a limpeza da casa. Ao domingo, há que dormir até mais tarde, com um bocado de sorte ir ao restaurante e dar um giro, às vezes até vamos à missa…

Arrumar tempo para os mais velhos, para os idosos, vivam eles ainda na sua própria residência (como casal, ou em dolorosa viuvez), ou vivam em algum lar, onde os alimentam, vigiam na saúde e convivem com quem lá mora, não é fácil. Às vezes passam-se semanas e os idosos, aos filhos, aos netos, nem vê-los. Até pensam em ir à loja a ver se é o telemóvel que está avariado. Mas não. A avaria é da agenda (ou do coração?!) dos filhos, agitados por muita coisa, mas tranquilos por terem os pais arrumados na sua casa, ou na instituição onde acabaram por depositá-los.

E se em muitas circunstâncias até se percebem as razões da institucionalização (por excessivos cuidados que exigem, por assistências técnicas que o domicílio não pode assegurar…), continuam por explicar a total ausência de visitas, de presença, de conforto, de carinho, de expressões reais e concretas de amor.

Temos de nos sacudir. O abandono cheira a ingratidão, a injustiça, a egoísmo. Quando se ama a sério, tudo se faz pelo encontro, pela comunhão, pelo diálogo e pela partilha. O amor nefelibático, nas nuvens, não enche corações. A indiferença mata. O silêncio do esquecimento rói a alma até às profundezas.

Pensando em tudo isto e já com o Natal à vista (tempo da família, de paz, de convívio, de partilha), aqui fica uma história, com a sua “moral da história” e a sua força pedagógica.

Reza assim, sob o título colocado neste editorial:

“Em Marselha, um velho pega no telefone e liga para o filho em Paris:

– Ouve, a tua mãe e eu decidimos divorciar-nos. Quarenta e cinco anos de miséria já chegam.

O filho, em choque, quase não consegue falar:

– Pai… do que estás a dizer? — a voz treme, quase em pranto.

– Não nos suportamos mais – continua o velho, seco e firme. Já chega de olhar para a cara dela todos os dias. Não quero discutir isso ao telefone. Liga à tua irmã em Londres e explica-lhe. – E desliga.

Desesperado, o filho liga imediatamente para a irmã:

– Estás a ouvir? Eles vão divorciar-se!

A irmã explode:

– O quê?! Nem pensar! Isso não vai acontecer!

Ela agarra o telefone e chama o pai de volta, gritando:

– Escuta bem: não te atrevas a assinar nada, não chames advogado nenhum! Eu e o meu irmão apanhamos o primeiro voo amanhã. Amanhã mesmo estaremos aí. ENTENDESTE?!

E desliga, furiosa.

O velho pousa o telefone devagar, olha para a esposa com um leve sorriso e diz:

– Está feito. Eles vêm passar o Natal connosco… e ainda por cima pagam os bilhetes”.

 

 

Cón. José Paulo Leite de Abreu

Presidente da Confraria de Nossa Senhora do Sameiro

Tua mãe e eu vamos divorciar-nos

Como é difícil a vida para tanta gente. Tanto corrupio, tanta azáfama, agora para chegar a tempo ao trabalho, depois por compras que há para fazer; e há que ir buscar os filhos, que os pôr no inglês, nas explicações…

A casa nunca está arrumada por completo, o jantar alguém tem de o fazer, urge o banho da pequenada, o dia faz-se longo e cansativo, até para o casal resta pouco tempo e, desse, muito já sem leveza, sem sorriso espontâneo, sem disponibilidade para o diálogo, para o encontro…

As contas não param de chegar, da luz, do gás, da internet… O carro fica por um balúrdio. Os impostos são castigadores. Claro que o calçado vai-se gastando, bem com as roupitas. Os mais pequenos teimam em crescer, impondo sistemáticos investimentos… Ah, e depois temos as despesas de condomínio, da farmácia, nalguns casos das propinas, do quarto, das deslocações…

Os fins de semana trazem futebol. O sábado é dia que se ajeita para as compras e para a limpeza da casa. Ao domingo, há que dormir até mais tarde, com um bocado de sorte ir ao restaurante e dar um giro, às vezes até vamos à missa…

Arrumar tempo para os mais velhos, para os idosos, vivam eles ainda na sua própria residência (como casal, ou em dolorosa viuvez), ou vivam em algum lar, onde os alimentam, vigiam na saúde e convivem com quem lá mora, não é fácil. Às vezes passam-se semanas e os idosos, aos filhos, aos netos, nem vê-los. Até pensam em ir à loja a ver se é o telemóvel que está avariado. Mas não. A avaria é da agenda (ou do coração?!) dos filhos, agitados por muita coisa, mas tranquilos por terem os pais arrumados na sua casa, ou na instituição onde acabaram por depositá-los.

E se em muitas circunstâncias até se percebem as razões da institucionalização (por excessivos cuidados que exigem, por assistências técnicas que o domicílio não pode assegurar…), continuam por explicar a total ausência de visitas, de presença, de conforto, de carinho, de expressões reais e concretas de amor.

Temos de nos sacudir. O abandono cheira a ingratidão, a injustiça, a egoísmo. Quando se ama a sério, tudo se faz pelo encontro, pela comunhão, pelo diálogo e pela partilha. O amor nefelibático, nas nuvens, não enche corações. A indiferença mata. O silêncio do esquecimento rói a alma até às profundezas.

Pensando em tudo isto e já com o Natal à vista (tempo da família, de paz, de convívio, de partilha), aqui fica uma história, com a sua “moral da história” e a sua força pedagógica.

Reza assim, sob o título colocado neste editorial:

“Em Marselha, um velho pega no telefone e liga para o filho em Paris:

– Ouve, a tua mãe e eu decidimos divorciar-nos. Quarenta e cinco anos de miséria já chegam.

O filho, em choque, quase não consegue falar:

– Pai… do que estás a dizer? — a voz treme, quase em pranto.

– Não nos suportamos mais – continua o velho, seco e firme. Já chega de olhar para a cara dela todos os dias. Não quero discutir isso ao telefone. Liga à tua irmã em Londres e explica-lhe. – E desliga.

Desesperado, o filho liga imediatamente para a irmã:

– Estás a ouvir? Eles vão divorciar-se!

A irmã explode:

– O quê?! Nem pensar! Isso não vai acontecer!

Ela agarra o telefone e chama o pai de volta, gritando:

– Escuta bem: não te atrevas a assinar nada, não chames advogado nenhum! Eu e o meu irmão apanhamos o primeiro voo amanhã. Amanhã mesmo estaremos aí. ENTENDESTE?!

E desliga, furiosa.

O velho pousa o telefone devagar, olha para a esposa com um leve sorriso e diz:

– Está feito. Eles vêm passar o Natal connosco… e ainda por cima pagam os bilhetes”.

 

 

Cón. José Paulo Leite de Abreu

Presidente da Confraria de Nossa Senhora do Sameiro

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