
DESCULPAS DOMINICAIS
Vamos ouvindo por aí que as igrejas estão a ficar vazias, que a prática dominical diminuiu, que o covid desabituou muita gente de ir à Igreja, que há cada vezes menos cristãos praticantes, que para muitos o domingo já não faz sentido…
E muitos cristãos vão afirmando: sou crente mas não pratico; entro numa igreja ou rezo quando me apetece; não me sujeito a regras ou rituais; “os que vão à Igreja são piores que os outros”; “eu cá tenho a minha fé”…
Preocupados em adequar-se aos tempos hodiernos, sempre na proa das melhores práticas pastorais, zelo de pastor ao rubro, alguns sacerdotes até andam a tentar descobrir, por exemplo, como se poderá administrar a comunhão através do vidro, ou como se poderá jogar futebol sem chutar à bola, ou como podemos transformar o povo e a família de Deus num eremitério, cada cogumelo a viver por si, todos transformados numa espécie de Robinson Crusoe, perdidos e isolados no meio de uma grande ilha.
Dentro deste caixilho da deserção e da “religião a la carte”, alguém escreveu um interessante texto, tentando adivinhar como seria a Última Ceia se acontecesse hoje e os discípulos fossem os cristãos da Igreja do século XXI. E ouviu os discípulos a dizerem, após terem sido convidados, por Cristo, para a mesa da Eucaristia:
“Pedro – Desculpe Senhor, tive de resolver alguns negócios e não deu para ir.
João – Os meus amigos vieram visitar-me.
Tiago – Ontem adormeci tarde. Estive a ver uma série da Netflix até às tantas e não acordei.
André – Estava muito frio. Mesmo muito frio.
Filipe – Senhor, fui ao estádio ver a minha equipa jogar. Cheguei tarde.
Bartolomeu – Para mim o lugar é um pouco longe.
Tomé – Simplesmente já não me sentia muito confortável naquele lugar.
Mateus – Tive de preparar a refeição para a minha família.
Tiago menor – Da última vez o padre não me deu a comunhão. E demora muito na homilia. Chato!!!
Simão – Domingo que vem eu vou. Prometo.
Judas Tadeu – Puros hipócritas, por isso não vou.
Judas Iscariotes – fui a uma entrevista de emprego. Ofereceram-me uma oportunidade que não pude recusar”.
Desculpas e mais desculpas, razões e mais razões, tentando escamotear o essencial: Deus já não preenche o coração; já não é prioridade; já passou ao rol dos esquecidos; é – quando muito – um pronto-socorro, um 112, para as doenças ou aflições, para repositório de pedidos e mais pedidos, para ramalhete lenitivo em palavras de circunstância.
Para muitos cristãos, o Domingo (dominicu = dia consagrado ao Senhor) não existe. Existem os lençóis, o cabrito ou o marisco, o tinto ou o “jola”, o hiper ou o super, a sportv ou o canal do clube, o aquecimento central e o sofá, o gasóleo ou os pássaros voadores. Tudo… menos… Deus, a família de Deus, a casa de Deus (que é a casa de todos nós), a celebração e a festa em povo crente.
Viva a liberdade!…
E que Deus não se esqueça de nós, apesar de, tantas e tantas vezes, nos esquecermos d’Ele! Que Deus continue a amar-nos, apesar do nosso coração arrefecido. Deus continue connosco, mesmo apanhando-nos a olhar pela janela. Que Deus nos salve, apesar do barro de que somos feitos.
Boa Páscoa a todos, com o que ela significa: vida nova, túmulo vazio, esperança, terceiro dia, alegria e sol radioso. Aleluia!
Cón. José Paulo Leite de Abreu
Presidente da Confraria de Nossa Senhora do Sameiro
DESCULPAS DOMINICAIS
Vamos ouvindo por aí que as igrejas estão a ficar vazias, que a prática dominical diminuiu, que o covid desabituou muita gente de ir à Igreja, que há cada vezes menos cristãos praticantes, que para muitos o domingo já não faz sentido…
E muitos cristãos vão afirmando: sou crente mas não pratico; entro numa igreja ou rezo quando me apetece; não me sujeito a regras ou rituais; “os que vão à Igreja são piores que os outros”; “eu cá tenho a minha fé”…
Preocupados em adequar-se aos tempos hodiernos, sempre na proa das melhores práticas pastorais, zelo de pastor ao rubro, alguns sacerdotes até andam a tentar descobrir, por exemplo, como se poderá administrar a comunhão através do vidro, ou como se poderá jogar futebol sem chutar à bola, ou como podemos transformar o povo e a família de Deus num eremitério, cada cogumelo a viver por si, todos transformados numa espécie de Robinson Crusoe, perdidos e isolados no meio de uma grande ilha.
Dentro deste caixilho da deserção e da “religião a la carte”, alguém escreveu um interessante texto, tentando adivinhar como seria a Última Ceia se acontecesse hoje e os discípulos fossem os cristãos da Igreja do século XXI. E ouviu os discípulos a dizerem, após terem sido convidados, por Cristo, para a mesa da Eucaristia:
“Pedro – Desculpe Senhor, tive de resolver alguns negócios e não deu para ir.
João – Os meus amigos vieram visitar-me.
Tiago – Ontem adormeci tarde. Estive a ver uma série da Netflix até às tantas e não acordei.
André – Estava muito frio. Mesmo muito frio.
Filipe – Senhor, fui ao estádio ver a minha equipa jogar. Cheguei tarde.
Bartolomeu – Para mim o lugar é um pouco longe.
Tomé – Simplesmente já não me sentia muito confortável naquele lugar.
Mateus – Tive de preparar a refeição para a minha família.
Tiago menor – Da última vez o padre não me deu a comunhão. E demora muito na homilia. Chato!!!
Simão – Domingo que vem eu vou. Prometo.
Judas Tadeu – Puros hipócritas, por isso não vou.
Judas Iscariotes – fui a uma entrevista de emprego. Ofereceram-me uma oportunidade que não pude recusar”.
Desculpas e mais desculpas, razões e mais razões, tentando escamotear o essencial: Deus já não preenche o coração; já não é prioridade; já passou ao rol dos esquecidos; é – quando muito – um pronto-socorro, um 112, para as doenças ou aflições, para repositório de pedidos e mais pedidos, para ramalhete lenitivo em palavras de circunstância.
Para muitos cristãos, o Domingo (dominicu = dia consagrado ao Senhor) não existe. Existem os lençóis, o cabrito ou o marisco, o tinto ou o “jola”, o hiper ou o super, a sportv ou o canal do clube, o aquecimento central e o sofá, o gasóleo ou os pássaros voadores. Tudo… menos… Deus, a família de Deus, a casa de Deus (que é a casa de todos nós), a celebração e a festa em povo crente.
Viva a liberdade!…
E que Deus não se esqueça de nós, apesar de, tantas e tantas vezes, nos esquecermos d’Ele! Que Deus continue a amar-nos, apesar do nosso coração arrefecido. Deus continue connosco, mesmo apanhando-nos a olhar pela janela. Que Deus nos salve, apesar do barro de que somos feitos.
Boa Páscoa a todos, com o que ela significa: vida nova, túmulo vazio, esperança, terceiro dia, alegria e sol radioso. Aleluia!
Cón. José Paulo Leite de Abreu
Presidente da Confraria de Nossa Senhora do Sameiro