
Muita gente não se dá conta do milagre!
A estória vai correndo em várias versões, mas uma das possíveis reza assim:
Jesus teve compaixão de um médico que, depois de tantas e tantas consultas, se encontrava exausto. Atravessou a sala onde se acumulavam os doentes em (desesperada) espera, entrou no gabinete e disse ao colega: pode ir embora, que agora tomo conta.
Os pacientes, vendo isto, logo pensaram: chegou a hora de mudança de turno.
Acomodado, Jesus, resoluto, chamou: venha o próximo!
Entrou-lhe então pelo consultório dentro um paraplégico, que se fazia transportar numa cadeira de rodas. Jesus contemplou-o, sentiu compaixão por ele, aproximou-se, colocou-lhe a palma da mão direita sobre a cabeça e exclamou: levanta-te e anda.
O homem imediatamente se levantou, sentiu firmeza nas pernas, viu-se capaz de andar e toca a sair para a rua, empurrando a cadeira de rodas que o havia transportado.
Quando vai a atravessar a sala de espera, os doentes que aguardavam pela consulta resolveram informar-se sobre o novo médico. E perguntaram: então que tal é este novo clínico?!
O homem agora curado não hesitou em responder: não vale nada. Nem me auscultou, nem me receitou medicamentos, nem me mandou fazer análises… É igual aos outros… Enfim, um bando de incompetentes…
Qualquer estória tem a sua moral. E esta pode até ter várias.
Logo à cabeça, muita gente não se dá conta do milagre, ou seja, não toma consciência de quanto recebe, não se consciencializa das graças obtidas. Vale isto em relação a Deus; vale igualmente em relação aos outros.
Quem agradece a Deus a vida, o ar que respira, o sol, a luz, a água, a roupa, a casa, o alimento, as pessoas que encontra, os sapatos que preservam os pés, a pasta dentífrica e a escova dos dentes que tornam o sorriso mais limpinho, o pente que põe o cabelo em esquadria, o emprego que traz pão à mesa, o transporte que leva ao destino desejado, o despertador que arranca para nova vida, o esquentador que faz do banho uma delícia, o frigorifico que permite a conservação dos alimentos, os irmãos na vida e na fé, nas canseiras e nas diversões?!…
Um dia, uma senhora pôs feno (isso mesmo!) no prato dos filhos e do marido. Perante o espetáculo, todos reagiram: que é isto? Feno? – A esposa e mãe explicou: há décadas que cozinho para vós e nunca ninguém me disse “obrigado”. Resolvi pôr-vos feno, a ver se conseguis perceber a diferença.
Saber agradecer. Por tanto que por nós é feito. Tanta gente a contribuir para o nosso bem-estar. Tanta gente dedicada, esforçada, generosa… E nós? Onde está o reconhecimento, onde está a sensibilidade? Onde está o merecido “obrigado(a)”?!
Mas há uma outra verdade a colher na estória: há gente para quem nada está bem, ou no sítio, ou no formato certo. Há que reclamar de tudo. Há que pôr defeito em tudo. Há que deitar abaixo, seja o que for, seja quem for. Incrível! Sempre e só o negativo. Sempre e só o defeito. Às vezes com o IVA da jactância, do orgulho, da mania de que só o próprio é que é um ás, um exímio, a perfeição acabada. Os outros, são pálidas sombras projetadas numa perfeição perdida.
Diante de um meio copo de água, há quem nunca consiga dizer: ainda lá está meio copo de água; antes e sempre: resta um mísero meio copo de água. Diante de uma toalha branca onde aparece uma pinta, só conseguem ver uma nódoa preta, nunca uma toalha branca que, numa pontita, tem uma marca. Sempre as lentes escuras, o comentário azedo, o olhar crítico, a negritude absoluta.
Ainda bem que, alheio à nossa mesquinhez e ingratidão, Jesus nos levanta e nos põe de pernas e braços firmes a empurrar a cadeira de rodas pela porta fora.
Cón. José Paulo Leite de Abreu
Presidente da Confraria de Nossa Senhora do Sameiro
Muita gente não se dá conta do milagre!
A estória vai correndo em várias versões, mas uma das possíveis reza assim:
Jesus teve compaixão de um médico que, depois de tantas e tantas consultas, se encontrava exausto. Atravessou a sala onde se acumulavam os doentes em (desesperada) espera, entrou no gabinete e disse ao colega: pode ir embora, que agora tomo conta.
Os pacientes, vendo isto, logo pensaram: chegou a hora de mudança de turno.
Acomodado, Jesus, resoluto, chamou: venha o próximo!
Entrou-lhe então pelo consultório dentro um paraplégico, que se fazia transportar numa cadeira de rodas. Jesus contemplou-o, sentiu compaixão por ele, aproximou-se, colocou-lhe a palma da mão direita sobre a cabeça e exclamou: levanta-te e anda.
O homem imediatamente se levantou, sentiu firmeza nas pernas, viu-se capaz de andar e toca a sair para a rua, empurrando a cadeira de rodas que o havia transportado.
Quando vai a atravessar a sala de espera, os doentes que aguardavam pela consulta resolveram informar-se sobre o novo médico. E perguntaram: então que tal é este novo clínico?!
O homem agora curado não hesitou em responder: não vale nada. Nem me auscultou, nem me receitou medicamentos, nem me mandou fazer análises… É igual aos outros… Enfim, um bando de incompetentes…
Qualquer estória tem a sua moral. E esta pode até ter várias.
Logo à cabeça, muita gente não se dá conta do milagre, ou seja, não toma consciência de quanto recebe, não se consciencializa das graças obtidas. Vale isto em relação a Deus; vale igualmente em relação aos outros.
Quem agradece a Deus a vida, o ar que respira, o sol, a luz, a água, a roupa, a casa, o alimento, as pessoas que encontra, os sapatos que preservam os pés, a pasta dentífrica e a escova dos dentes que tornam o sorriso mais limpinho, o pente que põe o cabelo em esquadria, o emprego que traz pão à mesa, o transporte que leva ao destino desejado, o despertador que arranca para nova vida, o esquentador que faz do banho uma delícia, o frigorifico que permite a conservação dos alimentos, os irmãos na vida e na fé, nas canseiras e nas diversões?!…
Um dia, uma senhora pôs feno (isso mesmo!) no prato dos filhos e do marido. Perante o espetáculo, todos reagiram: que é isto? Feno? – A esposa e mãe explicou: há décadas que cozinho para vós e nunca ninguém me disse “obrigado”. Resolvi pôr-vos feno, a ver se conseguis perceber a diferença.
Saber agradecer. Por tanto que por nós é feito. Tanta gente a contribuir para o nosso bem-estar. Tanta gente dedicada, esforçada, generosa… E nós? Onde está o reconhecimento, onde está a sensibilidade? Onde está o merecido “obrigado(a)”?!
Mas há uma outra verdade a colher na estória: há gente para quem nada está bem, ou no sítio, ou no formato certo. Há que reclamar de tudo. Há que pôr defeito em tudo. Há que deitar abaixo, seja o que for, seja quem for. Incrível! Sempre e só o negativo. Sempre e só o defeito. Às vezes com o IVA da jactância, do orgulho, da mania de que só o próprio é que é um ás, um exímio, a perfeição acabada. Os outros, são pálidas sombras projetadas numa perfeição perdida.
Diante de um meio copo de água, há quem nunca consiga dizer: ainda lá está meio copo de água; antes e sempre: resta um mísero meio copo de água. Diante de uma toalha branca onde aparece uma pinta, só conseguem ver uma nódoa preta, nunca uma toalha branca que, numa pontita, tem uma marca. Sempre as lentes escuras, o comentário azedo, o olhar crítico, a negritude absoluta.
Ainda bem que, alheio à nossa mesquinhez e ingratidão, Jesus nos levanta e nos põe de pernas e braços firmes a empurrar a cadeira de rodas pela porta fora.
Cón. José Paulo Leite de Abreu
Presidente da Confraria de Nossa Senhora do Sameiro